Diagnósticos de hanseníase aumentam em todo o mundo e Brasil registra mais de 20 mil casos no último boletim da OMS

Foto: Reprodução

22.773 novos doentes de hanseníase foram diagnosticados no Brasil em 2023, segundo dados do último boletim epidemiológico da Organização Mundial da Saúde (OMS), um aumento de 4% em comparação com 2022. Lembrando que, apesar de ser um dos países que mais diagnosticam a doença, a Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH) vem denunciando a autoridades brasileiras e estrangeiras que o país sofre de uma endemia oculta de hanseníase – milhares de casos sem diagnóstico e tratamento, o que é comprovado pelo alto percentual de diagnósticos tardios, registrados em pacientes com sequelas incapacitantes e irreversíveis. Apesar do aumento, o Brasil ainda não consegue diagnosticar casos novos no ritmo pré-pandemia de Covid19, que chegou a cerca de 30 mil casos/ano.

A situação nos países do BRICS+ não é diferente. Por isso, a SBH debaterá o tema “Hanseníase nos países que compõem os BRICS+” no 18º Congresso Brasileiro de Hansenologia, maior evento das Américas sobre o tema, de 5 a 8/1, em Salvador-BA. O debate com representantes do bloco será dia 7, às 14h, com as presenças e participações virtuais de Narasimha Rao e Sujay Sunita, da Associação Indiana de Dermatologia, Venereologia e Hansenologia, Sun Young e Furen Zhang, da Sociedade Chinesa de Dermatologia, além da presença de representantes oficiais das embaixadas no Brasil. 

Segundo a OMS, a Índia, primeiro lugar no ranking mundial de casos, registrou 107.851 novos casos, um aumento de 15% em comparação com o ano anterior, e a China, 315 novos diagnósticos, com um aumento de 4%.

Doença neural

A hanseníase é uma doença neural, o bacilo transmissor afeta os nervos, causando inflamação. A ação do bacilo é lenta – pode levar de 5 a 10 anos até que a doença se instale. O paciente pode sentir formigamentos, dores pelo corpo e, com nervos inflamados, pode ter alterações na sensibilidade da pele. Com o tempo, perde força para segurar objetos. Podem surgir na pele manchas esbranquiçadas ou avermelhadas com perda de pelos e de sensibilidade. Os sintomas podem se confundir com inúmeras enfermidades, mas o exame é clínico e um dos testes ainda muito usado e efetivo é a ausência de suor nas manchas.

“O especialista avalia o conjunto de sinais e sintomas e pode pedir exames complementares, como o ultrassom de nervos periféricos. Muitos doentes são diagnosticados com artrite, artrose, trombose, diabetes, alergia, micose e até infarto por causa das dores nos nervos. É comum a pessoa passar anos por vários serviços de saúde com vários diagnósticos, enquanto a doença avança sem tratamento”, explica Marco Andrey Cipriani Frade, dermatologista e hansenólogo, presidente da SBH, professor titular da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP.

Na Bahia, mais de 70% dos casos novos têm a forma mais grave da doença

A escolha de Salvador para a realização da edição 2024 do Congresso Brasileiro de Hansenologia se deu pelo cenário da doença na região. O Boletim Epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, de janeiro/2024, coloca o estado em 11º lugar no ranking nacional de detecção de casos novos – foram 1.691 diagnósticos em 2022, data do último levantamento, sendo 74,5% (1.260) com a forma mais grave da doença.

A SBH alerta para a urgência de ações para diagnóstico precoce. A taxa de cura no estado foi de 71,2%, considerada precária – hanseníase tem tratamento gratuito e pode ser curada com um coquetel de antibióticos, a poliquimioterapia fornecida pelo SUS.

A doença exige avaliação de contatos que podem ter sido contaminados pelos pacientes diagnosticados. Na Bahia, apenas 63% dos contatos próximos dos pacientes foram avaliados, taxa também considerada precária. O rastreio e tratamento dos comunicantes é a estratégia para controlar a transmissão e evitar sequelas. A situação na Bahia é apenas um exemplo do cenário da hanseníase em todo o Brasil.

Mitos

Há muitos mitos a respeito da doença, que é citada em papiros antiquíssimos e provocava medo na população. A ciência avançou em pesquisa, tratamento, cura e protocolos de enfrentamento à doença, mas o preconceito persiste, levando a perda de trabalho, afastamento de crianças da escola, afastamento de pessoas do convívio social e familiar. Por isso, a SBH esclarece:

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