A baiana a gente sabe que tem torço de seda, brincos de ouro, bata rendada, sandália enfeitada e graça como ninguém. Tudo isso graças a Dorival Caymmi, que em 1938 compôs a canção interpretada por Carmen Miranda. Mas e o que a Bahia, enquanto estado, tem de patrimônio imaterial?
A polêmica foi levantada no último final de semana após o DDD de um dos quitutes mais característicos do estado mudar de 71 para 21. A criação de uma lei que torna a produção e comercialização do acarajé patrimônios de valor histórico e cultural do Estado do Rio de Janeiro, de autoria dos deputados Renata Souza (Psol), Dani Monteiro (Psol) e Átila Nunes (MDB), gerou polêmica na web e mobilizou a Associação Nacional das Baianas de Acarajé (ABAM) em uma nota explicativa sobre o caso.
Sancionado pelo governador Cláudio Castro e publicado na edição do dia 25 de outubro no Diário Oficial do Município, o projeto de lei é legal, apesar da discordância nas redes sociais. Por meio de nota, a ABAM informou que a ação da deputada Renata Souza só prova a necessidade de uma maior união na Bahia para defender a cultura local.
“Embora a associação direta e legítima seja baiana, o acarajé está presente há muito tempo na paisagem do Rio, é uma invenção do povo negro, africano, que está em toda parte do Brasil, tendo grande importância, sobretudo para a população negra local de cada região. Até quando iremos assistir a patenteação e legitimidade deste importante ato estabelecido de forma legal e necessária sem que a nossa terra, símbolo de nossa diáspora negra, berço da cultura ancestral das primeiras empreendedoras do Brasil participe efetivamente?.”
Na nota, a ABAM ainda critica a descaracterização do quitute, como quando o acarajé foi tingido de rosa para a divulgação do filme Barbie. “Aqui na Bahia já travamos várias discussões a respeito desta apropriação cultural indevida e demasiada. Ainda é comum percebermos a comercialização do Acarajé com nome de “bolinho de Jesus”, temperado com catchup, maionese ou mostarda, acompanhando a coloração do modismo americano (Pink, Red, Blue)”.
É informado ainda que há uma lei em pauta na Câmara dos Deputados para proteger o Acarajé. “Esperamos que todos os Deputados dêem sua anuência para seguirmos com a Lei aqui em nossa terra, para assim conseguirmos o mesmo final feliz que o Rio de Janeiro teve; uma lei focada em salvaguardar nossas iguarias de tabuleiro.”
Com tanta polêmica, o questionamento permanece: o que é que a Bahia tem? O Bahia Notícias reuniu os quatro patrimônios imateriais protegidos pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Confira:
Ofício das Baianas de Acarajé: na descrição dada pelo site oficial do Governo Federal, o ofício faz referência ao bolinho de Acarajé, no entanto, o reconhecimento é como um todo. O ofício está inscrito no Livro dos Saberes desde 2005 como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. É de conhecimento popular que o tabuleiro da baiana tem quitutes que vão além do acarajé, assim como a produção de uma baiana. No entanto, o site faz referência ao bolinho e ao recheio encontrados nele, vatapá, caruru e camarão seco. Por fim, é citado também a cocada, o bolinho de estudante e o abará.
Roda de Capoeira e Ofício dos Mestres de Capoeira: o reconhecimento da capoeira, oriunda da cultura africana, como patrimônio cultural imaterial ajudou a disseminar a arte ao redor do país e do mundo. O título compreende tudo que envolve a roda de capoeira, isto é, o canto, o toque dos instrumentos, a dança, os golpes, o jogo, a brincadeira, os símbolos e rituais, além dos mestres, responsáveis pela transmissão do conhecimento e da cultura.
Festa do Senhor Bom Jesus do Bonfim: celebração que acontece desde o século XVIII, e segue sendo realizada, sem interrupção, desde o ano de 1745, faz parte da história de Salvador e une as matrizes religiosas católica e a afro-brasileira.
Samba de Roda no Recôncavo Baiano: neste mês o Samba de Roda no Recôncavo Baiano completou 19 anos de reconhecimento como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil pelo Iphan. Descrito como uma das joias da cultura brasileira, o samba de roda foi inspiração para a criação do samba carioca e bebeu da fonte das tradições culturais africanas.
Bahia Noticias
